sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Parte VI – Sangue Divino

[ Aviso leia a partir da Parte I - Prelúdio de Luz]


Nith-Haiah bateu as asas com força e partiu para cima de Acácio. Ele mal teve tempo de respostas, mas conseguiu esquivar-se jogando o corpo para o lado direito. Rolou no chão de mármore e levantou-se sorrindo. Seus olhos dementes sorriam também.

- O que houve? Por acaso se sentiu ofendido com minhas palavras? Acho que seria mais fácil me lançar na fogueira, do que gastar seu suor sagrado em uma batalha.

A espada longa do anjo trepidava. Seus olhos pareciam abismos que baforavam chamas sagradas.

- Mortal respeite-me. Pois seu destino esta cravado naquelas correntes. Não posso permitir que continue a ofender minha doutrina desta forma. Minha missão é bem o inverso da tua. Não posso permitir que almas, como a tua, levem este fogo maldito até os mortais. Eles não possuem capacidade de assimilação. Seria tudo demência.

Acácio gargalhou. Uma gargalhada doente. Com sílabas dementes e tons malignos. Sua cabeça se projetava para frente com os ombros tornados para frente, e mão fechadas próximas ao peito.

- Pronto vem me dizer que a loucura é um dos caminhos para iluminação. Pode ser até um atalho. Mas não um ponto de chegada. A humanidade não precisa de loucos concisos em suas idéias. Muito menos de ídolos demagogos. Precisa de heróis ocultos. Anti-heróis destruidores da moral. Construtores de uma novo caminho.

- Este caminho não é um caminho certo. Os tijolos estão frescos ainda. Quem caminhar por este caminho afundará nos próprios passos.

- Quem sabe mais alguns do meu cacife podem fornecer o calor para que os tijolos sequem e caminhemos seguros?

Nith-Haiah congelou os olhos em Acácio depois destas palavras. Sentia pela primeira vez um sentimento proibido. Suas asas pediam. Seu corpo entrava em ressonância com o centro da terra. Líquidos voláteis corriam dentro de seu corpo. Uma imagem apagada em sua mente. Vôo contra Acácio. Com o escudo contra o peito e a espada posicionada como uma lança sobre ele. Acácio abriu o peito, viu sua imagem refletida no escudo do anjo, e lançou-se contra o escudo. O impacto foi abafado por um raio que caiu sobre o cume do monte Cáucaso. Uma chuva torrencial iniciou. Acácio foi ferido no ombro esquerdo. Mas conseguiu se prender no escudo e alçar vôo junto do anjo. Jogou o peso de seu corpo para o lado direito e tentou prender-se nas asas do anjo. Falhou. Pois quando projetava-se no ar para realizar o golpe sofreu um empurrão do escudo do anjo. Caiu no chão molhado de costas. Gotas pesadas caiam ao lado de seu rosto. Seu cabelo molhado cobria parte de sua face. Mas não escondia sua expressão de dor. Começou a se levantar. Um novo raio. Um bater de asas. Ajoelhado ainda levantou sua cabeça. Encarou o anjo nos olhos. Gotas cortavam seu olhar. Elas estalavam na armadura de Nith-Haiah. Produziam o som de tambores de guerra. Aclamavam por batalha. Destino. Acácio explodiu como um tiro em direção ao anjo. Suas mãos em forma de garra mostravam toda a força invocada naquela ação. Não tinha como esquivar-se. Grudou no peito do anjo como um gato irritadiço. Golpeou seu elmo com força provocando pequenas deformações. Fora facilmente retirado pelo anjo, e jogado a uma distância de dez metros. Arqueou os olhos. Tinha que pensar em algo mais inteligente. Analisou o terreno. As colunas de mármore. Havia uma a suas costas. O anjo avançou contra Acácio. Acácio o deu as costas e começou a correr em direção a coluna. Saltou e deu dois passos verticais sobre ela e jogou seu corpo em lopping contra o anjo. No ar de cabeça para baixo surpreendeu Nith-Haiah e agarrou-lhe o elmo e o retirou. Fazendo-o quicar longe dos alcances do anjo. Os cabelos loiros de Nith-Haiah se soltaram no ar, uma pseudo-aura dourada surgiu em torno de sua cabeça. Acácio o encarou de frente, pela primeira vez sem o elmo. A face do anjo era doce e terna. Mas não cairia em mais uma armadilha do destino.

- Mortal devolva-me isto agora. Não sabe do que sou capaz!

- Nem você anjo. Vai pegar cachorro de ideologias mortas na idade média.

O anjo avançou vorazmente contra o elmo. Acácio o bloqueou no ar usando seu antebraço, descrevendo um arco que acertou em cheio o queixo do anjo. Interrompendo o vôo de Nith-Haiah. Neste momento Acácio avançou contra o anjo, puxando-o pelos cabelos. Dando-lhe uma joelhada no nariz. Quebrando-o. Sangue divino escoria no mármore do Cáucaso. Acácio tomou a espada do anjo. Os olhos de Nith-Haiah se arregalaram. A espada era pesada e sentiu um pequeno choque ao manuseá-la.

- Hum...Quantos mortais foram mortos por tentar criar opinião? Esquisito alguns pregam a bondade e caridade, mas não receiam em matar seus inimigos, ou mesmo, aqueles que podem atrapalhá-los.

Acácio olhava fixamente para a espada ao descrever pequenos arcos no ar. Podia ver raios de paz saírem da espada. A chuva se intensificava. Os trovões se tornavam mais fortes.

O anjo, durante o som de um trovão, puxou com força o calcanhar de Acácio. Fazendo-o cair de boca no chão. Um estalido de dor. Acácio mais que rapidamente golpeou com a espada na direção de seu inimigo. Que usou seu antebraço como armadura. Faíscas formaram-se no ar. Um raio caiu bem próximo dos dois que duelavam no chão. Acácio conseguiu se levantar e arremessou a espada para bem longe do alcance dos dois.

- Encara-me sem armas. Venhas nu. Pois suas armadilhas não funcionam comigo. Sou a dinamite da tua casa. E o mármore da nova ordem. Cuidado, posso ser bom e verdadeiro. Agora tem medo?

- Mortal cala-te. Não passas de um figurão da “nova ordem”. Mais um que o poder sobe-lhe a cabeça e acha que podes vencer algo milenar. Sou a força do maior medo dos humanos. A morte. Então caso convença alguém que não deve temer a morte pode me tirar as forças, caso contrário este anjo é o seu fim. Padecerá sobre os olhos ternos da bondade.

Acácio sorriu. Nith-Haiah sorriu. Molhados pela chuva se encaravam entre gotas pesadas. Cada um deles era um rio. Efêmeros. Correntezas estavam dispersas em suas mentes. Marcavam tudo por onde passavam. Carregavam consigo sedimentos das partes mais altas e tendiam a levar tudo para parte mais baixa. Tinham uma só função aumentar o caos. Bendita entropia humana. Dois raios. Um som. Silêncio.

Continua...

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