quarta-feira, 30 de julho de 2008

Parte V – Nith-Haiah

[Aviso leia a partir da Parte I - Prelúdio de Luz]


Saiu da nuvem da nuvem de poeira altivo. Passos firmes os guiariam a continuidade de sua jornada. Notou que tudo no seu quarto estava no devido lugar. Com exceção do corpo de seu antigo eu que ainda estava esparramado no chão ensangüentado. Aproximou-se do corpo. Notou que ele ainda usava um colar. Era uma simples corrente de prata com um pingente. O pingente um símbolo que Acácio desconhecia. Uma espécie de sol poente com nove raios. Era bonito e decidiu pega-lo. Não se preocupou com o corpo, pois estava abandonando a casa naquele mesmo instante. E caso alguém encontrasse o corpo ele seria o último suspeito. Iriam encontrar seu próprio corpo. Seria a morte um dos passos para a libertação? Não quis pensar nisto agora. Vestiu uma calça jeans azul e uma camiseta pólo preta. Sairia e buscaria pela anu-preto, entregaria as resposta que tinha encontrada em troca de recompensas. Mas por onde sairia? Pela recepção do prédio não. Seria um tanto esquisito, encontrarem seu corpo sabendo que foi visto saindo do prédio instante depois de ser morto. Sentiu uma sintonia diferente em suas artérias. Fora capaz de realizar façanhas inimagináveis para um humano qualquer. Do que mais seria capaz? Queria testar-se. Caminhou até a área dos fundos. Onde tinha sua velha máquina de lavar roupas e um tanque cheio de lodo. A janela dava para os fundos do prédio. Normalmente não ficavam pessoas ali em baixo, logo não havia o que temer caso alguém o visse pulando. Fixou-se na janela. Estava no oitavo andar, a queda seria fatal para qualquer humano. Entretanto não era qualquer, era um Despertado. De cócoras observou ao redor. Respirou. Observou o concreto onde projetaria seu corpo. Saltou. Um momento de redenção. Seu corpo em queda livre, Projetou-se com os braços abertos e olhos fechados. Instante s de pura magia com a sensação de gravidade zero. Todos os seus órgãos pareciam congelados no tempo. O coração palpitava fortemente. O cérebro dançava entre milhões de imagens. O vento forte fazia seus cabelos tremerem. Sua boca permanecia estática em um sorriso de redenção. Um estrondo metálico.

Relutou em abrir os olhos. Teria calculado mal o tempo de queda? Abriu e se viu presos aos braços de metal de alguma criatura com asas. Era asas enormes com mais de 4 metros de comprimento. Não podia observar quem ou o que o carregava. Estava de costas para a coisa. Esforçando-se para levantar a cabeça apenas vira um par de botas metálicas. Quando se deu por si estava a uma altura inimaginável, talvez quilômetros de altura. Enxergava o chão como um quadro embaçado. Começou a se mexer e forçar uma saída rápida. Não era inteligente. Mas não tinha noção do que era capaz e arriscaria tudo. Sem compaixão consigo. Um apertão um pouco mais forte o fez tranqüilizar-se. Bem seja lá o que o carregava era bem forte, mais forte que qualquer demônio que enfrentara anteriormente. Viu se aproximando de uma grande montanha. Coberta por nuvens tempestuosas. Uma águia gigantesca passou rente a Acácio. Temeu pois era uma águia negra com olhos vermelhos. Seu cheiro era de carniça.

Quando se deu conta estava aproximando-se velozmente da montanha. Uma formação redonda de colunas gregas de mármore branca era o cume da montanha. Onde Acácio foi despejado. Observou que numa das extremidades do círculo de mármore havia uma parede. Com correntes. Tinha o tamanho ideal para acorrentar um homem pelos membros. Só agora se deu conta do que o havia transportado. Um enorme homem com dois metros de altura, loiro de cabelos lisos, que se escondiam por detrás de um elmo ricamente adornado de ouro e pedras preciosas. Usava uma armadura totalmente feita de prata. Carregava consigo um escudo e uma espada longa. Suas longas asas brancas não deixavam duvidas era uma espécie de anjo.

- Sabe onde está Acácio? Mais novo desperto.- Disse o anjo com um austero mas uma voz doce mesmo assim.

- Em algum lugar bem. Mais alto que qualquer mortal qualquer pode chegar. Seremos formais, não? Qual a sua graça?- Disse Acácio devolvendo parte da austeridade do anjo na forma de sarcasmo.

- Não sejamos irônicos. Mau nome é Nith-Haiah. Um anjo da esfera destacada para proteger os humanos de certas inconveniências do destino. Trouxe até aqui para mostrar-lhe um caminho de luz e paz. E não infortúnios e desavenças com o resto da humanidade. Pode ser mais feliz sem tanta guerra. Num local onde só paz prevalece e os valores morais desenvolvidos por nosso senhor atuam em perfeita sincronia com a humanidade. –

Enquanto proferia estas palavras seu rosto se enchia de graça e orgulho.

-Mas ainda não sabes onde se encontra não é? – Um sorriso nem um pouco angelical surgiu em seu rosto, fazendo rugas, não antes vistas, saltarem como cães de sua face. – Você, Acácio, se encontra no cume do monte Cáucaso. Vê aquelas correntes? – Apontando para a parede numa das extremidades do círculo, onde já havia reparado nas correntes. – São as correntes que prenderam Prometeu em eras antigas. Prometeu ousou desafiar os deuses e por isso foi castigado. Aquela águia que passou do nosso lado durante o vôo devorava seu fígado todos os dias. Triste seu fim.

Acácio abaixou os olhos reflexivos no mármore branco. O anjo tentava ludibriá-lo de que sua missão era um erro. Porém ele sabia que para Despertar tinha que vencer mais este inimigo.

- Pobre de ti Nith-Haiah. Acho foi cegado pela sua armadura de prata. Ou pior fora um coitado condicionado a não pensar em outras perspectivas a não ser a de seu senhor. Vem-me vender ideologias falidas. Achas que sou favorável ao relapso mental como forma de salvação? Muito se engana. Sou um desperto da força do homem. Tenho plena consciência que estes deuses censores dos humanos, que buscam respostas, não passam de estórias, para causar temor na massa ignorante. Prometeu levou o fogo até os humanos, acendeu a chama que tornaria os humanos a espécie dominante deste planeta. Por isso não temo teu castigo caxias. Estou no trono de titãs.

Nith-Haiah rugiu de raiva. Seus olhos acenderam-se de dourado. Uma luz terrivelmente forte projetou-se de seus olhos. Sacou sua espada e colocou seu escudo em posição de defesa. Acácio neste mesmo instante sentiu todo seu corpo tremer em hordas de redenção. Seus olhos de farol também se acenderam. Seus músculos explodiram. Sua mente plainou. Um novo êxtase. Uma batalha pela Realidade. Algo nunca antes visto pela humanidade, muito menos pelas divindades, estava para aproximar-se. Uma batalha épica. Acácio estava próximo de enfrentar seu maior inimigo. Um inimigo com milênios de experiência, na arte de dominar os mortais. As nuvem se tornaram mais tormentosas e inúmeros raios caíram no campo de batalha. O monte Cáucaso era caos. Olhos se cruzaram. Atacaram.

Continua...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Parte IV - Respostas

[Aviso: Continuação de Parte III - Diálogos. Leia os post anteriores, A partir de Parte I - Prelúdio da Luz]


Encarou a carta. Projetou um leve sorriso de sarcasmo e ódio. Caminhou na ponta dos pés até ela. Respirou a luz escarlate projetada por ela. Seus olhos se tornaram dementes ao encarar as letras como demônios adormecidos. Tudo era trevas a sua volta. Estava só com suas dúvidas. Seus olhos projetaram um facho de luz virgem. E suas mãos se fecharam em sinal de força. Seus músculos rugiram. Veias projetaram-se em seus braços. As pernas se posicionaram para o ataque. Não havia defesa, era ataque. Audaz e direto. Sem direitos a meias palavras. Sem fuga. Sem vida.

- Demônios de eras antigas que se projetaram contra mim. Encara agora teu novo inimigo. Mais puro, mais forte, mais dúbio. Acima de tudo um não-deturpado por teus vícios.

Eles os cercaram. Eram centenas. Pequenos, trêmulos, frívolos e quentes. O cheiro de enxofre encorpou-se no ambiente. Eram cães. Hominídeos. Alados pútridos. Estavam em todos os lados. Sorrindo. Queriam sua carne, seu cerne. Caminhavam com passos calmos, cercando-o. O ataque aproximava-se. Seriam astutos. Imperdoáveis.

No centro da roda viva de demônios Acácio esta em pé. Em posição de ataque. Mãos fechadas. Olhos dementes. Sorriso dúbio. A batalha pela resposta começaria, e como a anterior mortes eram inevitáveis.

- Cogito, ergo sum? Agora suas palavras me fazem sentido. Vocês demônios tentaram tampar-me com o véu negro da mentira. Mas deste véu me dispersei. Agora passo a pensar e conseqüentemente existir. Deveriam muito antes definir o que serias o pensar, mas vocês tentaram condicionar-me. Não mais. Não vou mais aceitar acondicionamento passivo. Como eu antes pudera saber o real sentido da existência se era um lacaio de vossas idéias? Éramos todos paralíticos, incapazes de agir. Destruo a minha prisão. Parto para novos horizontes, sem seu consentimento.

“A resposta para esta questão seria somente uma. Sim. Mas são poucos iluminados que podem existir. Conhecer o abismo mais temido? Por isto estou eu aqui para encará-los e abrir as portas do novo pensamento. A nossa existência depende sim do pensamento, que por muitas gerações fora trancado em jaulas de ideologia e conspirações transmitidas por ondas eletromagnéticas. Temos que abstrairmos da condição de existência imposta e encontrar a Realidade. Derrubando nossos ídolos e matando nossos demônios.”

Os demônios tornaram-se agitadiços. Gritaram. Centenas de vozes infernais, agudas e pútridas berravam. Um cântico apocalíptico. Acácio sorria. Feri-los-ia com suas palavras. A primeira horda de demônios alados atacou. Dezenas de demônios alados, asas com grandes furos e formato de morcegos, partiam com suas presas exibidas e reluzentes buscando dilacerar a carne da verdade. Os olhos de Acácio eram um farol de luz virgem irradiante. Por onde passava seus olhos demônios caiam agonizantes. Expeliam fumaça de seus corpos, berravam de dor. Suas feições clamavam piedade. Os que se esquivavam de seus olhos eram golpeados com a mão forte da marreta. Girava em torno de si e golpeava com ardor, fazendo os demônios caírem com os ossos quebrados no chão. Um único demônio prendeu-se nas costas de Acácio. Encravando as presas. Um grito de dor. Suas carnes eram novamente penetradas por agulhas de mentira e hordas de niilismo. Seus olhos arderam em luz virgem. Todo o ambiente iluminou-se. Os demônios tamparam os olhos, esbugalhados de pânico, com suas mãos secas. Acácio agarrou o demônio atacante de suas costas. Pressionou sua garganta fortemente. Cegou-lho com seus olhos-faróis. O bafo de enxofre ficara insuportável com tamanho grito. Com a outra mão agarrou-lhe pelos pés. Um movimento só foi necessário. Com um puxão para lados opostos o demônio foi repartido. Cinzas a mais cinzas de enxofre encheram então a sala. De joelho Acácio levantou seu mais novo troféu e ainda com o sorriso no rosto arremessou o corpo para seus companheiros.

A primeira parte do conflito já tinha sido vencida. O conflito epistemológico da realidade fora concluído. Deveria agora entender a natureza da matéria como ser.

Metade dos demônios já havia caído por terra. A outra metade aguardava sedenta pelo momento ideal do ataque. Os olhos de Acácio analisavam o novo ambiente, menos pútridos, mas com densidade de ódio igual.

- Agora temem lacaios da mentira? Já sabem que não sou mais o todo fraco, dominado. Agora devo buscar o sentido da vida na matéria. Todavia o que fazem você aqui, não são matéria? São abstrações, éter do além. O humano, matéria, tem o poder de pensar quando ele foge de suas artimanhas. Amontoados de átomos agindo. Buscando explicações metafísicas para a realidade adulterado por suas ideologias. A matéria age. E por finitude de vossas capacidades o supera. Da pedra mais profunda sepultada no inferno ao vapor dos céus, a matéria pensante guia os destinos da natureza. A natureza clama por vosso salvador, estou aqui para destruí-los e mostrar os caminhos da verdade. Não somos amontoado de matéria inerente, somos Vida. Comecem correr, pois a vida ressurge das tuas trevas para encontrar seu novo caminho.

Acácio saltou, com os braço e pernas estendidas. Uma explosão de luz, todos os poros de seu corpo transpiravam a radiação virtuosa. O pânico foi instalado no ambiente. Luz cada vez mais intensa, mais pânico. A verdade transparecia, era forte demais para ser aceita. Os demônios fugiram. Restando somente cinzas de resistência. Todo o ambiente tremeu. As paredes explodiram, e uma esfera formou-se sobre Acácio que ainda plainava no centro. Essa esfera começou e se comprimir. Estava entrando em colapso. Um coração pulsante. Repulsante. Incerto. Uma última agitação. Uma nova explosão. Fragmentos negros ficam dispersos pelo ambiente claro formam uma nuvem de poeira. Desta poeira surge Acácio. Intacto. Mais forte. De peito triunfante e olhos sedentos.

Continua....

domingo, 27 de julho de 2008

Parte III - Diálogos

[Aviso: Antes de ler Parte III - Diálogos, leia parte II - A Limpeza e Parte I - Prelúdio de Luz]


Estava com o papel em suas mãos ainda. Dele fluía algum tipo de energia leve. Parecia transpirar gotículas de inspiração. Era a fagulha para acender um inferno. Uma única gota escorregou levemente da carta e tocou o polegar de Acácio. As portas foram abertas. Tudo começou de maneira muito forte. Um vento penetrante entrou repentinamente no quarto. A janela se agitou vorazmente. As cortinas começaram a dançar caoticamente sem rumo. Um estrondo seco indicou que a porta fechara-se repentinamente. Um tremor assustador começou a sacudir as estruturas do quarto e as pernas de Acácio não se seguravam mais. Tentou buscar apoio, mas os móveis fugiam de seu toque. O guarda-roupa caiu, várias roupas espalharam-se pelo quarto. Elas subiam e desciam como se tivessem vida. Formaram um redemoinho no centro do quarto. Este redemoinho parecia bailar em torno do próprio eixo caçoando o humano no ambiente. Os cabelos de Acácio agitavam-se, não entendia o que estava ocorrendo, mas mantinha-se na posição, estático, de peito aberto e mãos estendidas para a glória. Era somente um desafio do destino, não tinha que temê-lo. Sua cama levantou-se, começou a plainar diante de seu peito. Pode sentir o odor do relapso fluindo de seus poros. Amaldiçoou-a. Como uma flecha avançou contra seu peito. Com leveza que nem ele poderia imaginar que tinha, saltou e dançou. Pisoteou a fronha e com um movimento de dança a expulsou pela janela, que se repartiu em destroços de uma visão amarga. Caiu de cócoras ao chão e encarou sem temor as agitações do ambiente. O turbilhão de roupas, e agora de destroços, agitou-se e dançou até o âmbito da janela onde se atirou. Com sua queda todo o quarto tremeu e os móveis agitaram vorazmente. De repente uma força fora quebrada e todos eles voaram em direção a janela. O quarto estava vazio. Acácio e o nada agora duelavam por espaço. A janela subitamente se reconstituiu em uma parede sólida, a porta era agora uma parede sólida. Grandes folhas negras surgiram do chão cobrindo cada centímetro quadrado do quarto. Era um cubo negro. Em seu centro plainava a carta. Ela agora possuía um brilho escarlate. Era tudo escuridão, menos o tenebroso brilho vermelho da carta azul.

Um movimento anormal fez o coração de Acácio agitar-se. Não estava só.

- Não há o que temeres! Sou apenas você que quer discutir comigo.

Um homem muito magro, com os ombros caídos e cabelos grisalhos longos e bagunçados aproximou-se do foco de luz vermelha. Sua face era magra, os olhos afundados e lábios secos e dementes. Seu abdômen afundava em suas costelas. Estava nu, com somente uma colar no pescoço. Com face semi coberta pelos cabelos, olhou com piedade. Acácio recuou um centímetro quando se aprofundou nos olhos do homem. Não era um homem qualquer. Era ele. Mais velho, mais magro e de alma escura.

- O que você quer de mim? – Disse Acácio com a voz austera.

- Convencer-lhe que podes mudar e que tudo não passa de uma ilusão. Acalme-se vamos conversar. Não vamos perder tempo com enigmas idiotas, vamos lá fora. Viva intensamente, meu rapaz. Perdi muito tempo de minha vida nessas indagações e não cheguei a lugar nenhum posso salva-lo ainda. Estenda-me a mão. – Uma mão magra, em que o desenho das falanges podia ser levemente acompanhado, se estendeu aberta para Acácio.

Acácio analisou cada poro da mão doente e febril que se estendia para ele. Abriu sua mão. Levou-a em direção a mão magra de seu velho-eu. E com um movimento veloz agarrou-lhe o pulso e o fez ajoelhar de costas para Acácio.

- Afasta-se mim, efêmero. Não me tocas e não se chame de eu -Seus lábios trepidavam de raiva. - Pois a mim tu não mais pertences. Já está enterrado. Parece que se esqueceste de iniciar seu processo de decomposição e assimilação a tua laia. Volta para teu inferno e cante as letras de seus ídolos mortos. Aproveita e manda um recado para eles. O reinado dos tolos esta condenado, e um assassino desperta quando a agulha da realidade o toca. A pior das insanidades fora desperta. Corra e temas. Tema com ardor de quem é caçado, agora és minha caça. Ainda vou brindar com seu sangue o esplendor da verdade.

Com um movimento audaz agarrou-lhe pelo cangote e o arremessou contra parede com a força de dois titãs. Um estalido do crânio de dilacerando. Acácio aproximou-se para ver sua obra. Estava ele de costas, com a coluna desalinhada, com as pernas semi-abertas, e com a cabeça pressionada contra a parede. Uma poça de sangue formava-se próxima a sua cabeça. Ela tendia aumentar. Acácio sentiu algo diferente. Brindava consigo a vitória. Seu corpo absorveu uma nova energia. Tinha superado o primeiro desafio. Vencer o eu antes de abandoná-lo. Agora sim buscaria as respostas mais concretas para armar-se na encruzilhada da Realidade.

Continua...

Parte II - A Limpeza

[Aviso: Antes de parte II: A Limpeza, Leia parte I - Préludio de Luz].



Acordou encharcado de suor. Muito medo. Acácio estava em seu quarto. Paz. Que pesadelo terrível, nunca sentira medo tão intenso como no pesadelo desta noite. O pesadelo fora tão forte que sua a cabeça doía intensamente e sua boca latejava, provocada pela secura. Droga, pelo menos o porre não fora sonho, fora realidade. Mas que coisa. Suas roupas? Precisava vê-las para ter certeza. Ao atravessar a cozinha, ainda com louças sujas do café da manhã do dia anterior, já pode sentir a fedentina que encontrava-se na área de serviço. Maldição como pudera rolar em urina e vômito numa só noite. Devia jogar as roupas fora. Não serviam mais, impossível tirar aquela catinga. Uma crosta de vômito secara justamente sobre a gola de sua camisa. Logo esta camisa que usara em datas tão especiais. Mas hoje não significam mais nada para sua vida, passageiras datas. Passado enterrado e presente cavando. Pegou uma sacola de supermercado e colocou as roupas já em estado de decomposição na sacola, então viu algo que fez seu coração parar por um instante. Era uma pena negra. Mas como assim uma pena nas suas roupas? Devia ser das pombas que viviam na região. Mas sua consciência o tocou por instante. Não existem pombas negras Acácio. Sentiu medo novamente.

Correu até o espelho do banheiro. Estava mais branco que o normal. Sua pupila estava dilatada. Seus cabelos bagunçados. A pena na sua mão. Por que a pegara? Por que a sentia? Não podia ser uma pena de pomba, era maior e mais pesada. Negra. Coçou a cabeça no lado esquerdo. Lembrou-se da orelha. Passou os dedos suavemente sobre ela e sentiu que ainda estava presa a sua cabeça. Porém algo se soltou em seu indicador. E começou e se mexer lentamente sobre sua unha. Receoso tirou a mão de trás da orelha e viu algo que temia muito. Um verme se contorcia sobre seu dedo. Maldição, o que significava aquilo? Tirou a roupa com voracidade e pulou para baixo do chuveiro em água fria. Começou a esfregar-se intensamente e mais vermes começaram a cair de sua orelha. Então como um turbilhão eles começaram a saltar dos orifícios de sua face. Sua sensação foi de total pânico. Milhares de verme se remexendo dentro de sua fossa nasal fazendo cócegas infernais. O som do movimento rítmico sendo sensivelmente captado por suas orelhas. O tocar de suas bocas úmidas em seus olhos lacrimejantes. A tosse, e vermes caem de sua boca anestesiada pelo pânico. Seu cérebro se moía a cada segundo, sentia-o como um gás, totalmente caótico, e seguindo a mesma tendência suas idéias. O pupilar, o movimento, a onda, eles fugiam. Mas fugiam de que? De quem? Não fora ele seu abrigo, fornecedor de alimento, sua vida?

Não pode mais ver os azulejos de seu banheiro. Ou eles teriam criado vida? Eles se movem. Rítmicos. Parecem divididos alguns com milímetros de comprimentos outros com metros. Corpos achatados outros cilíndricos. Todos se contorcem no chão, na ritualística passagem de abandono do hospedeiro. Era a dança da morte. Estavam dançando, satirizando e agradecendo.

A cabeça de Acácio queria explodir. Não tinha para onde correr. Ouviu passos em seu apartamento. Ótimo, vermes são exorcizados de meu corpo e de quebra algo invadem minha casa. Estava estático. Nu. Não podia se mover. Sua cabeça entrava em uma via espiralada que seu corpo não correspondia. O som dos passos aumentou. Dirigiam-se ao banheiro. A maçaneta se moveu. O ranger da porta fez seu coração trepidar em adrenalina. Um vulto por detrás do box formou-se. Tinha cerca de um metro e sessenta e cinco, sua mão movia-se em direção ao apoio. O portal começou mover-se.

- Nossa quanta sujeira. Com tudo isto no chão daria para escrever um jornal. Ai ai. Quer ajuda para terminar a limpeza?- Uma jovem de seus 23 anos, negra de cabelos encaracolados, ofereceu-lhe mão. Os olhos de Acácio moviam-se dementes. Buscavam auxílio. Havia somente a garota. Temia. Onde levaria toda esta insanidade? Caso contasse para alguém ninguém acreditaria, era delírio. Não estava bêbado, isto o preocupava.

- Não temas gado. Este é só primeiro passo para o processo de limpeza. Lembra de ontem a noite? Pois então. Vai despertar. Todo o processo cognitivo é doloroso. Porém recompensador.

Seus olhos arregalaram-se. Fora real. Não era um pesadelo. Toda noite de ontem realmente havia acontecido. O anu-preto e suas palavras enigmáticas. Quem seria aquela jovem? O anu? E que história é esta de limpeza? Não queria pensar em uma resposta. As respostas davam medo. Pensar era pesado.

- Acácio, querido. Sentirás a diferença em algumas horas. E depois tenho que levá-lo para um passeio no seu novo mundo. E fazer alguns testes. Descanse e depois venho a ti novamente. Mas antes de partir. Vou deixar-lhe um presente sobre sua cama. Venha logo tenho certeza que vai querer pega-lo.

A jovem deu-lhe as costas e partiu. Dúbia e intangível.

Seus dedos começaram a mover. Os vermes não estavam mais no chão. Sua cabeça estava leve. Muito leve. Sensível. Tinha, pela primeira vez na vida, a sensação de plenitude. Esquisito, um minuto atrás ela queria explodir, agora leve e aberta à incorporação de novas idéias. Levantou-se e caminhou. Nu e molhado. Seus pertences estavam todos no lugar. Porém não possuíam mais o mesmo significado. Cada móvel, cada foto, cada eletrodoméstico todos transfigurados. Possuíam formas diferentes. Significados diferentes. Aproximou-se da TV. Estava desligada, mas podia sentir suas sintonias e uma aura cinza plainava sobre suas antenas. Afastou-se. E voltou a caminhar para o quarto. Sua cama estava delicadamente arrumada. Um lindo envelope azul encontrava-se apoiado sobre seu travesseiro. Sentou na beirada da cama. Abriu o envelope. Dele tirou um papel azul também. Nele uma letra caligráfica, nem um pouco delicada, escreveu algumas frases perdidas.

Ainda bem que já podes sentir diferente. Sinal que não é de todo irreal.

Entretanto para provar-me a essência leve-me meias respostas sobre minhas simplórias indagações.

Cogito, ergo sum? Matéria pode pensar?

Encontre-as e traga-as até mim. Sabe muito bem onde me encontrar.

Continua...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Parte I - Prelúdio da luz

Saíra do bar já tarde. Muito tarde. Ou demasiadamente cedo. Estava tomado pelo vício, não conseguia mais sentir suas pernas com precisão, logo as traçavas em linhas abstratas pelas ruas. Gostava desta sensação, todo momento era um misto de gravidade zero com grandes puxões até o centro da terra. Preferia chamar estes puxões de chamadas do diabo. Pois um homem com vida que ele possui somente o diabo queria puxá-lo para lugar nenhum, seu destino predileto. Caminhou mais um pouco até se apoiar em um poste para urinar. Abriu a baguilha e derramou a urina em cima de um cartaz de festa de rock, sorriu. Era boa a sensação de esparramar seus fluidos sobre ideologias transfiguradas. Ao fechar a baguilha e dar o primeiro passo tropeçou e caiu em cima de sua urina ainda quente. Proferiu algumas palavras de maldição e cuspiu a lama quente de uréia. Sentiu uma presença estranha e um frio repentino. Seu coração se agitou pela dose de adrenalina injetada em suas veias. Virou-se rapidamente buscando algo ou alguém. A rua deserta como sempre. Maldição, pensou, maldita hora para sentir temor.
Caminhou cerca de meio quarteirão até sentir uma ânsia repentina. Devia ser pelo fato de ter engolido um pouco de urina e não ter comido nada aquela noite. Ajoelhou-se e prendeu seus braços contra o ventre. Forçando a saída do que fazia-lhe mal. Uma crise de tosse começou e repentinamente um jato de vômito misturado com sangue pintou toda a calçada a sua frente. Estava enfermo. Não queria mais andar. Sua cabeça pesava. Seus pés não respondiam. A noite o chamava. Ou seria a morte? Um piar atroz o fez despertar do transe que se iniciava. Em primazia fingiu não ouvir. Mas novamente o som se repetiu com mais intensidade e mais próximo. Virou buscando o pássaro responsável. Não viu nada na rua nem nos postes. Mas espere um pouco que ave possui hábitos noturnos? Sentiu medo. Uma sombra formada pela luz do poste a sua frente revelou algo que não esperava. E subitamente um anu-preto se chocou contra seu peito. Gritou desesperado. Rolando no próprio vômito ensangüentado, agora adornado com algumas penas negras. Respirou com dificuldade. Calma, pensou, era somente um delírio que a bebida provocava.
- Mas a bebida não é responsável por vossos pesadelos. – Disse voz súbita e sagaz.
- Por cristo. O que é isto? Eu morri? Está aqui para buscar meu corpo?- Proferiu estas palavras em tom de choro, enquanto se arrastava de quatro para a direção oposta da voz.
O anu-preto voou até suas costas, no seu ombro esquerdo. Onde falou.
- Um pergunta de cada vez. Gado não temas, estou aqui para ajudá-lo. Logo sente e escute. Não sofrerás nenhum tipo de dano físico. Mas quem sabe metafísico.
Tentou desvencilhar-se do animal a suas costas. Queria correr, mas um puxão repentino em sua orelha o fez estatizar sobre a calçada. Não sentia mais sua orelha esquerda e algo quente escorria sobre sua face inchada. Gritou de dor, mas ninguém poderia escutá-lo. Restava esperar. Seu destino estava na mão do animal plumoso e negro.
- Silêncio! Agora me escutas. – Havia sarcasmo em suas palavras. – Por que acha que realmente vou matá-lo? Para mim você, especialmente você, é muito útil vivo e não morto. Venho aqui para ajudá-lo e retirá-lo desta vida pueril. Sentirás o destino em suas mãos. E não temerás os mortais errantes que se acham donos do tempo. Sou simplesmente um atalho para a iluminação. Assim venho a ti para retirar-lhe os parasitas que sugam sua força vital, sem eles poderás despertar e encontrar o mal mais temido pela humanidade. A Realidade. Mas não temas, pois o início começa pelo fim. E seu fim meu querido gado, começa agora.


Continua...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Invertendo os portais

A lua prata resguardava sua espera. A luz era expelida de forma melancólica e caótica. Luz suficiente para formar sombras na dura poeira da noite. O vento soprava triste. Chamas podiam ser vistas além do horizonte. E todas as árvores contorciam-se em movimento cônicos e elípticos. A natureza clamava por ação. E toda ela conspirava a seu favor.
Abriu os olhos. Da lua saltaram três feras. Grandes e diabólicas. Ao caírem no chão pode ver que eram cegas e farejavam no ar sua presença. Cada uma delas com cerca de um metro de altura aproximavam-se de felinos deturpados e carneados. Fediam muito. Tinham cheiro de pó de mármore branco misturado com a relva noturna dos dias de lua cheia. Seus rabos se moviam agitadiços, pareciam sentir que ação exalava de seus poros. Uma das feras a que não tinha um olho e tinha três costelas pútridas exposta, se moveu mancamente, pode ver então que tinha sua pata traseira esquerda em carne viva e ali alguns vermes faziam sua ritualística dança da alimentação, ela o encarou com o único olho preso ainda em sua mastigada face, o outro estava preso por um fino resquício do nervo óptico, seu cego olho dizia para seguir e confiar. Não sentiu suma confiança, mas era o suficiente para se levantar e prosseguir.
Caminhou lentamente na rua deserta. As feras o acompanhavam fazendo um triangulo de proteção a sua volta. O mais incrível q é mesmo tendo o corpo e decomposição, não fediam em nada. Elas o guiavam por um caminho bem conhecido. Sentia seu coração mais apertado a cada novo passo e cada nuvem de poeira deixada para trás. A fera q tomava a dianteira parou. Ela virou a face em carne viva em direção a seu rosto. Sentiu medo, mas a carne pulsante da face demoníaca deixava-o dubiamente confiante. Somente um movimento labial foi necessário para identificar sua exata localização.
Um portão de metal. Vermelho sangue. Era formado por um conjunto de lanças eretas e apontadas para o céu. Estas lanças apontavam para um anjo com uma espada de fogo, que de maneira austera guardava a entrada. A chama da espada do anjo se acendeu fortemente quando fora detectada a presença das feras. Em um vôo rasante, em que passou muito próxima da cabeça de uma das feras, faíscas místicas foram produzidas ao som da espada ser chocada no asfalto. Depois de um salto escarlate para a esquerda em que todo seu corpo se contorceu em um movimento fetal, em que girava em torno de seu próprio eixo, caiu em pé com o corpo em transversal e as patas afastadas gerando maior equilíbrio ao corpo. Um único olhar de ódio foi direcionado. As feras soltaram uma baforada com cheiro de enxofre e avançaram contra o anjo, que descrevia um arco de chamas leves no céu noturno. Corriam com a leveza de um coelho e saltaram contra o muro, formando uma rede de vultos negros, uma vez impulsionadas no muro plainaram contra o anjo no ar. Suas presas negras e rubras totalmente expostas. Grunhidos de dores infernais. O encontro com o anjo foi fatalmente instantâneo. Elas chegaram de três lados possíveis. Elas começaram a devorar seus músculos ainda no ar enquanto ele perdia o equilíbrio com uma delas despenando suas asas angelicais. Ele ainda tentou golpear a que esta atacando o pescoço, mas espada fora-lhe retirada com uma patada que dilacerou todo o seu antebraço. Ao cair o anjo golpeou com um soco a fera caolha fazendo o olho que estava pendurado voar até o portão principal. Depois disso um espetáculo cruel de carnificina atroz concretizou com todos os toques demoníacos possíveis.
A fera que acabara de perder o olho aproximou-se. E então com sua não-face toda ensangüentada com licor divino, disse:
-O portão está aberto. Nossa missão já fora cumprida. Deve fazer sua parte agora.
Caminhou lentamente até o portão. Com as mãos trêmulas o abriu. Chamou. A garota atendeu-o, surpresa.
- Querido, mas o que você vem fazer aqui esta hora?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Cubo

Depois de uma longa e tormentosa caminhada chegou a sala mais secreta. Crepitante chegou mais próximo do alvo mais almejado. De início parecia apenas um cubo. Um cubo perfeito que uma leve fumaça fria emanava formando desenhos abstratos. Tinha uma cor acinzentada que emitia leves partículas vermelhas, que surgiam com muita velocidade, mas caiam logo não longe de seu início. Essas partículas tinham um doce perfume de flores cultivadas no mais rico solo da perdição ígnea, tudo isto misturado ao marcante aroma amadeirado do ilícito. Podia ver parte de sua face refletida nele, mas o que lhe interessava estava preso naquele pequeno e imóvel sólido geométrico platônico. Podia ver um fosco rosto, que se contorcia como um feto no oitavo mês, tinha contínuos movimentos aleatórios e cada movimento surgia um novo feixe de partículas vermelhas e perfumadas. Pressentia seu coração, pulsava com uma intensidade cada vez maior a cada instante que passava ao lado do cubo. Não bastava presença. Queria poder. Tocar. Sentir. Ouvir. Aclamar. Chorar. Correr. Acima de tudo poder.

Decidiu iniciar o processo. Exibiu em suas mãos uma marreta de ouro. Antes de iniciar observou cada centímetro do cubo e certificar-se que não existia uma brecha que poderia ser usada contra ele. Não encontrou, mas quem sabe com a marreta as coisas poderiam mudar. Bateu violentamente contra o cubo, iniciando nos vértices, esperando resultado imediatista. Depois de alguns golpes e muita poeira gelada se levantar, pode ver o resultado. Resultado nulo. Só pudera constatar uma única coisa. O cubo era coberto por uma manta de gelo. Gelo que queimava a cada golpe recebido pela marreta, mas saía intacto pela força interna de seus constituintes. Como atacar algo que se mantém intacto por forças áureas? Não tinha o que concluir ainda, somente recorrer a outras formas de ataque. Começou a alisar cada milímetro do cubo. Queria sentir sua respiração. Suas proeminências. Encontrar o atrito ideal. Força contrária que apontaria a direção correta. Uma única lágrima. Foi o que sentiu ao passar carinhosamente os dedos sobre o cubo. Num ato instintivo agarrou-se ao cubo e começou a fissioná-lo contra o peito nu. Toda a força vital extravasava por seus poros e olhos. Tentava pega-lo a distâncias cada vez mais algozes, em que sentia o frio cubo contra seu peito, mas ele criava uma força contrária de repulsão afetiva. Não queria negar aquele momento e empregou todas suas forças nele. Sentia o molhado espalhar-se sobre seus braços e pernas. E o perfume instigante cada vez mais forte. O feixe de luzes vermelhas se tornou cada vez mais denso aproximando-se da escuridão total. Mas no instante seguinte era pura paixão. Sentado com o cubo em seus braços gritou, um grito misto de glória e dor. Seu peito e o cubo pulsavam em uníssono. E sentia as emoções e desilusões do objeto como suas. Houve um momento de silêncio e calor, seguido por uma explosão astral. Toda a sala era luz. Perfume. Vitória. Um único som pode ser ouvido. Sim.

Desfaleceu sobre os destroços gélidos da vitória. Agarrou o ramo de oliveira que existia dentro do cubo. Pode finalmente sorrir.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pútrida Liberdade

Chegou esbaforido até a casa dela. Pulou o portão e tropeçou num azulejo quebrado da área. Correu no corredor negro do hall de entrada. Era tudo escuridão e um doce perfume de rosas. Então pode deparar com que seus olhos mais temiam. Ela jazia morta. Morta, estática e fria. Caiu de joelhos e em prantos se aproximou do corpo. Queria tocá-la, mas o véu da morte não permitia este luxo. Neste momento ouvia vozes aos milhões gritando. Suplicando pelo apelo de clemência. Mas nada o permitia isto mais. Estava diante do corpo de sua amada e somente o corpo. Não podia tocar sua alma e alcançar auroras de prazer. Lembrou dos momentos que não queria mais lembrar, momentos que o fizeram feliz e agora traziam todas as cargas negativas que a alegria proporciona. Sentia demasiadamente extasiado pela dor. Seria sentimento de tempo perdido ou tempo enganado. Não queria mais sentir, a vida quis que fosse. Crente destino de corrupção. Não tinha mais esperanças, somente descrenças. Mas precisava de ópio. Busca-lo-ia em fontes benevolentes e perder novamente. Decidiu não decidir.Saiu e deixou que natureza fizesse sua parte pobre do destino

Ao virar as costas ela derrubou uma única lágrima falsa. Caminhou até janela, viu enquanto ele caminhava torto até a esquina. Pegou o telefone, discou e disse.

- Livre para viver.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Seus Olhos

Seus olhos brilham. A noite tem mais fulgor lá dentro. há mulheres que têm noites nos olhos, outras contêm dias, você tem noites, uma porção de noites puras, imensas, estreladas com constelações como grinaldas e Via-lácteas. Você me toca com a umidade de seus olhos noturnos. e me leva a buracos negros da imensidão. Perco-me no caminho de tua alma. Só vejo seus olhos. Ismo da paixão.
Seus olhos me cobrem como veludo estrelado da noite, Olhos ardentes, suaves, serenos e envolventes. O céu da noite cai sobre meu peito, me arremata a cirandas de emoções. Sobre seus olhos e relento vivo lapsos de incitamento. Que seus olhos me percam. Desviemos dos caminhos da razão. Nos encontremos no limiar da escuridão.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Trôpegos Passos

Era noite fria de um perdido mês do ano de um senhor deitado em palha mofada. O rapaz andava calmamente pela picada em direção ao lugar nenhum em busca de uma importante informação. Tinha os cabelos bagunçados pelo calmo vento sul, que trazia consigo o frio, que era um estado gratificante da natureza para o rapaz, pois assim a natureza roubava dele a energia para manter a entropia natural das coisas. Era um prazer incomensurável doar parte de teu calor a uma entidade muito maior que uma construção baseada nas páginas de um livro. Sua roupas eram agitadiças e mescladas pela poeira do dia e pelo sereno da noite. Os olhos eram vermelhos pela falta de sono e excesso de informações, que não eram devidamente canalizadas. Seu caminhar era inconstante e calmo, podendo sentir cada fragmento do solo que lutavas contra seus pés e rasgava o tempo com lâmina cega da paixão. Sua mente estava caminhando no abismo na loucura beirando cair no despenhadeiro da realidade. Mas a missão pulsava quente no peito de um jovem sem destino.
Logo depois de uma lufada de sentimentos caiu ao chão desesperado pela guia. Só tinha o mundo à sua volta, mas não havia o suficiente para encontrar o mal ardentemente desejado. Apalpava o chão com a ponta dos dedos calejados pelas teclas de atalho dos prazeres, mas todos os atalhos levavam sempre ao mesmo rumo. E neste rumo o jovem se encontrava agora, era o processo de despertar ardidamente chicoteado pelo diabo e carinhosamente retardado pelos humanos. Encarava os fatores extrínsecos como irmãos, laçados pela genética da sociedade. Bastava um único piscar para voltar ao estágio de inanição e relapso mental.
Apóia-se nos joelhos e arqueia os olhos no horizonte fúnebre, e vê as almas de seus heróis enfermos e nus. Seus heróis apontam para o caminho inverso e clamam pela aurora voraz da mente infantil. O último obstáculo a ser vencido era o próprio não ser vivo. Não havia caminhos a serem traçados pelas trilhas ocultas de produções anabolizantes. Drogas que eram injetadas por doses visuais e minuciosamente revisadas gramaticalmente. Quando todas as direções levam-nos ao lugar nenhum. Corremos o risco de nos encontrarmos cansados no início da arrancada. Vida que arrancada de cada um de nós fiéis pedaços de malogros benignos.
Podia então o jovem escolher correr o risco ou ser banido. Escolheu. Sorte dele, alienado pela mente e vivificado pelo graal da loucura.

Enformação Brasileira

Depois de menos um dia pode sentar-se no sofá e transferir-se para a tela negra diante de suas pálpebras vascilantes. Depois deste momento a única sensação que teve foi de total ópio. Pois não podia mais pensar somente absorver os nutrientes mastigados e a letras recortadas. Sentia-se bem, pois era unanimidade, era passível e passado. Podia amar como tal, queria ser o que tal queria. Só não poderia saber o que ele queria. Sua inestimável missão era pegar e correr sem poder reclamar. Tentou por um momento sair deste transe, foi então golpeado nas costas, taxado de louco e ridículo. – Como tem coragem de criar opinião própria, a realidade é a mostrada aqui. Sem distorções somente adaptações concisas para sua compreensão aceitável.

Era feliz. Era enganado. É ignorante. Passivo ruminante. Mas acima de tudo brasileiro.