terça-feira, 22 de julho de 2008

Invertendo os portais

A lua prata resguardava sua espera. A luz era expelida de forma melancólica e caótica. Luz suficiente para formar sombras na dura poeira da noite. O vento soprava triste. Chamas podiam ser vistas além do horizonte. E todas as árvores contorciam-se em movimento cônicos e elípticos. A natureza clamava por ação. E toda ela conspirava a seu favor.
Abriu os olhos. Da lua saltaram três feras. Grandes e diabólicas. Ao caírem no chão pode ver que eram cegas e farejavam no ar sua presença. Cada uma delas com cerca de um metro de altura aproximavam-se de felinos deturpados e carneados. Fediam muito. Tinham cheiro de pó de mármore branco misturado com a relva noturna dos dias de lua cheia. Seus rabos se moviam agitadiços, pareciam sentir que ação exalava de seus poros. Uma das feras a que não tinha um olho e tinha três costelas pútridas exposta, se moveu mancamente, pode ver então que tinha sua pata traseira esquerda em carne viva e ali alguns vermes faziam sua ritualística dança da alimentação, ela o encarou com o único olho preso ainda em sua mastigada face, o outro estava preso por um fino resquício do nervo óptico, seu cego olho dizia para seguir e confiar. Não sentiu suma confiança, mas era o suficiente para se levantar e prosseguir.
Caminhou lentamente na rua deserta. As feras o acompanhavam fazendo um triangulo de proteção a sua volta. O mais incrível q é mesmo tendo o corpo e decomposição, não fediam em nada. Elas o guiavam por um caminho bem conhecido. Sentia seu coração mais apertado a cada novo passo e cada nuvem de poeira deixada para trás. A fera q tomava a dianteira parou. Ela virou a face em carne viva em direção a seu rosto. Sentiu medo, mas a carne pulsante da face demoníaca deixava-o dubiamente confiante. Somente um movimento labial foi necessário para identificar sua exata localização.
Um portão de metal. Vermelho sangue. Era formado por um conjunto de lanças eretas e apontadas para o céu. Estas lanças apontavam para um anjo com uma espada de fogo, que de maneira austera guardava a entrada. A chama da espada do anjo se acendeu fortemente quando fora detectada a presença das feras. Em um vôo rasante, em que passou muito próxima da cabeça de uma das feras, faíscas místicas foram produzidas ao som da espada ser chocada no asfalto. Depois de um salto escarlate para a esquerda em que todo seu corpo se contorceu em um movimento fetal, em que girava em torno de seu próprio eixo, caiu em pé com o corpo em transversal e as patas afastadas gerando maior equilíbrio ao corpo. Um único olhar de ódio foi direcionado. As feras soltaram uma baforada com cheiro de enxofre e avançaram contra o anjo, que descrevia um arco de chamas leves no céu noturno. Corriam com a leveza de um coelho e saltaram contra o muro, formando uma rede de vultos negros, uma vez impulsionadas no muro plainaram contra o anjo no ar. Suas presas negras e rubras totalmente expostas. Grunhidos de dores infernais. O encontro com o anjo foi fatalmente instantâneo. Elas chegaram de três lados possíveis. Elas começaram a devorar seus músculos ainda no ar enquanto ele perdia o equilíbrio com uma delas despenando suas asas angelicais. Ele ainda tentou golpear a que esta atacando o pescoço, mas espada fora-lhe retirada com uma patada que dilacerou todo o seu antebraço. Ao cair o anjo golpeou com um soco a fera caolha fazendo o olho que estava pendurado voar até o portão principal. Depois disso um espetáculo cruel de carnificina atroz concretizou com todos os toques demoníacos possíveis.
A fera que acabara de perder o olho aproximou-se. E então com sua não-face toda ensangüentada com licor divino, disse:
-O portão está aberto. Nossa missão já fora cumprida. Deve fazer sua parte agora.
Caminhou lentamente até o portão. Com as mãos trêmulas o abriu. Chamou. A garota atendeu-o, surpresa.
- Querido, mas o que você vem fazer aqui esta hora?

Um comentário:

Unknown disse...

eita, me faltou cultura de base...rs

bom conto, creio que seja conto. Vou ler os anteriores