quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Cubo

Depois de uma longa e tormentosa caminhada chegou a sala mais secreta. Crepitante chegou mais próximo do alvo mais almejado. De início parecia apenas um cubo. Um cubo perfeito que uma leve fumaça fria emanava formando desenhos abstratos. Tinha uma cor acinzentada que emitia leves partículas vermelhas, que surgiam com muita velocidade, mas caiam logo não longe de seu início. Essas partículas tinham um doce perfume de flores cultivadas no mais rico solo da perdição ígnea, tudo isto misturado ao marcante aroma amadeirado do ilícito. Podia ver parte de sua face refletida nele, mas o que lhe interessava estava preso naquele pequeno e imóvel sólido geométrico platônico. Podia ver um fosco rosto, que se contorcia como um feto no oitavo mês, tinha contínuos movimentos aleatórios e cada movimento surgia um novo feixe de partículas vermelhas e perfumadas. Pressentia seu coração, pulsava com uma intensidade cada vez maior a cada instante que passava ao lado do cubo. Não bastava presença. Queria poder. Tocar. Sentir. Ouvir. Aclamar. Chorar. Correr. Acima de tudo poder.

Decidiu iniciar o processo. Exibiu em suas mãos uma marreta de ouro. Antes de iniciar observou cada centímetro do cubo e certificar-se que não existia uma brecha que poderia ser usada contra ele. Não encontrou, mas quem sabe com a marreta as coisas poderiam mudar. Bateu violentamente contra o cubo, iniciando nos vértices, esperando resultado imediatista. Depois de alguns golpes e muita poeira gelada se levantar, pode ver o resultado. Resultado nulo. Só pudera constatar uma única coisa. O cubo era coberto por uma manta de gelo. Gelo que queimava a cada golpe recebido pela marreta, mas saía intacto pela força interna de seus constituintes. Como atacar algo que se mantém intacto por forças áureas? Não tinha o que concluir ainda, somente recorrer a outras formas de ataque. Começou a alisar cada milímetro do cubo. Queria sentir sua respiração. Suas proeminências. Encontrar o atrito ideal. Força contrária que apontaria a direção correta. Uma única lágrima. Foi o que sentiu ao passar carinhosamente os dedos sobre o cubo. Num ato instintivo agarrou-se ao cubo e começou a fissioná-lo contra o peito nu. Toda a força vital extravasava por seus poros e olhos. Tentava pega-lo a distâncias cada vez mais algozes, em que sentia o frio cubo contra seu peito, mas ele criava uma força contrária de repulsão afetiva. Não queria negar aquele momento e empregou todas suas forças nele. Sentia o molhado espalhar-se sobre seus braços e pernas. E o perfume instigante cada vez mais forte. O feixe de luzes vermelhas se tornou cada vez mais denso aproximando-se da escuridão total. Mas no instante seguinte era pura paixão. Sentado com o cubo em seus braços gritou, um grito misto de glória e dor. Seu peito e o cubo pulsavam em uníssono. E sentia as emoções e desilusões do objeto como suas. Houve um momento de silêncio e calor, seguido por uma explosão astral. Toda a sala era luz. Perfume. Vitória. Um único som pode ser ouvido. Sim.

Desfaleceu sobre os destroços gélidos da vitória. Agarrou o ramo de oliveira que existia dentro do cubo. Pode finalmente sorrir.

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